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quinta-feira, 2 de junho de 2011

O tempo e o homem


- Tempo, tempo... Por que passas tão rápido? – Um velho homem perguntou.

- Ó meu bom senhor, por que choras se tu mesmo que me criou?

- Choro pelo tempo que passou, imagino o tempo que viverei e tremo; tenho medo – o homem se arrepiou.
- E o tempo presente, que fazes dele?

O homem se calou e o tempo sorriu. As sobrancelhas se arquearam e a face enrugada se encrespou, a boca ressequida se abriu e por fim o homem se pronunciou.

- Vivo como o velho que sou, pensando que amanhã minha vida pode acabar, e então nada me restou.

- Ora que tolice! Crias a idéia de idade e defines por ti próprio quanto tempo tens – novamente o senhor se aquietou – Sou igual para todos, sempre fui; mas o que fazem de mim... Este é outro caso.

- Acaso o meu, descobrir isso eu meu resquício vital.

- Resquício vital? Ó céus, que discurso boçal. Tens o tempo que defines, dito que passo uniformemente, só depende do que fazes e do que tens em mente.

- Que queres dizer?

- Criaste a idade; choras quando um novo ano se passa. Criaste as horas; martirizas-te pela velocidade com que passam. Vê o que fizeste? Caiu na própria armadilha temporal.

O homem refletiu e olhou para suas próprias mãos – enrugadas e machucadas. Em seguida as mostrou para o tempo.

- Vê o que tu fizeste? Transformou-me em um velho!

- Pois bem, ao menos não me responsabilizo por tua tolice. – O tempo riu, o homem observou – De nada importa a carcaça que usas, se o interior aloja uma criança. Responda-me homem, ainda vês beleza na vida?

- Não... Falta inocência na mesma.

- Então nada posso fazer; de fato, nunca pude. Sou o que fazem de mim; bem aproveitado, bom, feliz, inútil, rápido...

- Chega! Cansei-me de receber lição de moral. – O homem se exaltou.

- Lição de moral do tempo, há algo mais surreal? – O tempo riu, e o senhor pela primeira vez retribuiu e em instantes rejuvenesceu. Um sorriso maroto, feliz, completo.

- Realmente. Quase tão surreal quanto eu ser o pirata da perna de pau – E viajou a infância.
- Ainda estou aqui, meu bom homem. Aproveite-me.

E o homem riu e seguiu ao lado do tempo. Brincou, aproveitou, amou, fez e desfez, e quando o acompanhante partiu, o homem se foi, porém ciente de ter criado um aliado e feito bom uso do mesmo – o tempo.

Nenhum tempo é perdido, enquanto houver uma pessoa acreditando nisso – você. 

6 comentários:

  1. Beeeeel do céu, você realmente se superou nesse texto! Sabe que até me lembrou um pouco O Pequeno Príncipe?!

    Excelente jogo de palavras e ideias. Sei lá, eu sei que você quer alguns pontos negativos, mas não sou tão boa em avaliar... Se pensar em alguma coisa te conto, beleza?

    Parabéns amiga, deixo aqui meu elogio sincero :D

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  2. Meu Deus, isso foi ótimo Bel. Mesmo.
    Concordo com a Lele em relação de parecer com O Pequeno Príncipe. (Falando nisso, eu tenho o musical aqui em casa, quer ver comigo? *O*)
    E em verdade digo-te que o tempo é realmente você quem faz. Aproveite seu tempo, meu amor <3

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  3. Caramba...Pequeno Príncipe nada....essa conversa de tempo deixa qualquer um maluco..você realmente conseguiu entender o que eu havia dito...seu texto é fantástico! Poste em portugues no deviant! Merece!!!!

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  4. Nossa... sem palavras.Faz agente pensar na vida e se aproveitamos o tempo ou desperdiçamos Hm kkk voce se supera a cada post novo

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  5. Adorei!! :)

    Se pudéssemos conversar com o tempo
    o que será que diríamos a ele?
    Talvez encontrando essa resposta
    encontremos a resposta para as mais cruéis dúvidas de nossas vidas.
    Beijos Bel!

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